quarta-feira, 2 de março de 2016

Capíutlo 6: Rodrigo


20 de abril de 2016

Querido diário,

Eu finalmente achei que as coisas estivessem se ajustando. Quer dizer, não que tudo esteja bom, mas eu já estou me acostumando a algumas coisas. Mentir para Jessica não parece tão doloroso. É uma parte de mim. Transar com Natan já é algo bastante automático. Lidar com os olhares de todos na escola também é algo com o qual já me acostumei. Algo que acho importante que fique registrado é: as pessoas sempre dizem que “em breve, todos esquecerão.” Bem, isso é uma grande mentira. Gostaria de me lembrar disso para sempre.

Olhares de estranhos já me incomodaram mais. Eu costumava ir direto para o banheiro quando chegava na escola. Sentia vontade de chorar sempre que uma pessoa me dirigia uma expressão maliciosa. Às vezes, ouvir um comentário na fila da cantina me tirava o apetite. Agora já aprendi a lidar com algumas dessas reações. Não é algo que eu goste, ou que eu ache bonitinho de ouvir é só que... as pessoas não são tão criativas quanto pensam. Já ouvi tantos trocadilhos e comentários que nada mais me surpreende. Poucas coisas me chateiam agora. Minha expressão tem se mantido constante.

Contudo, hoje foi um dia atípico. Ok, todos os dias tem sido atípicos desde a publicação do vídeo, mas essa é a minha vida, tenho que aceitar o que ela é. A questão é que Rodrigo veio falar comigo hoje. Eu não tenho certeza se estava pronta para encontrar com ele. Já o tinha visto algumas vezes pelo colégio, mas achei que tínhamos um acordo silencioso de não falar um com o outro. Quando ele chegou perto de mim, senti um calafrio estranho. Senti como se ele fosse pedir para ir para a cama com ele, como Natan faz todos os dias.

“Por que você fez isso?” Ele me perguntou. Então ele fazia parte do grupo de pessoas que acha que fui eu quem vazou o próprio vídeo. “Por que VOCÊ fez isso?” Eu respondi. “Foi você quem gravou o vídeo. Eu só participei da ação e ainda assim, sem saber.” Aprendi a lidar com a culpa, aprendi a aceitar olhares das pessoas. Mas essa culpa não era minha.

“Eu queria só uma memória para a gente. Você consegue entender? Eu queria que você olhasse e pudesse rever esse momento várias vezes.” Ele me disse. Pois é, que romântico.

“Pode ter certeza de que eu já vi mais vezes do que queria. O maior problema, Rodrigo, foi que você nunca me mandou o vídeo. Quando eu pude ‘lembrar da nossa noite’ já estava na minha linha do tempo, com mais de duzentas curtidas e treze compartilhamentos. Isso porque nem te digo quantas pessoas marcaram ‘amei’.” É estranho como conversas importantes deixam as palavras na nossa mente. Escolhi escrever as exatas palavras que cada um disse para eu poder reler depois.

“Você acha que fui eu quem postou o nosso vídeo?” Ele me disse. Claro que eu achava que era ele. Quem mais teve acesso ao vídeo. “Desculpa, Vivian, eu posso ter filmado, posso até ter mostrado para algum amigo, mas não fui eu quem colocou o vídeo no Facebook.”


“E como foi que você ‘mostrou para seus amigos’?” Eu perguntei. A resposta era lógica. As pessoas não se reúnem mais. Se ele mostrou para alguém, foi pelo Whastapp. Ele tinha viralizado meu vídeo sem nem se dar conta. Mas agora não tinha importância. Nos celulares, o vídeo já se espalharia, mas na internet, o estrago seria ainda maior. Quem colocou meu vídeo no Face queria que eu fosse exposta, queria colocar minha cabeça a prêmio.

Capítulo 5                                                                                                                                Capítulo 7


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