quarta-feira, 16 de março de 2016

Capítulo 7: Ana e Bia


30 de abril de 2016

Querido diário,
As coisas pioraram depois da conversa com Rodrigo. Como se fosse um caminhão, tudo voltou para mim com força total. Não consigo absorver o impacto. Jessica e Natan estão namorando oficialmente agora. Ela estava tão feliz quando me contou. Já ele só o que fez foi sorrir junto e, quando Jessie não estava olhando, sussurrou no meu ouvido, dizendo que comemoraríamos o namoro mais tarde. O curioso foi que eu assenti. Já esperava por algo do tipo, tem sido mais fácil aceitar.

Ana e Bia ainda não falam comigo. Não entendo direito o porquê. Desde que o vídeo foi solto, elas não se dispuseram para conversar. Tudo o que sei é que estavam recebendo comentários deselegantes de garotos que achavam que elas transariam com eles porque eu transei com meu namorado. Ainda não engoli essa resposta, mas, ultimamente, estou engolindo muita coisa, uma a mais uma a menos...

Quando contei a Jessica que tinha falado com Rodrigo, ela sugeriu que eu procurasse as meninas para conversar também. Se eu podia encarar meu ex-namorado cafajeste e voltar ao colégio no dia seguinte, eu deveria ser capaz de encarar minhas ex-melhores-amigas. Concordei, mesmo sem acreditar no que ela diz. Está difícil lidar com Jessie, eu não me sinto mal em discordar dela. É como se eu tivesse uma dívida eterna: “como estou fazendo sexo com seu namorado, eu não vou te contrariar mesmo que eu queira”.

As meninas não pareceram muito felizes de me ver. Fomos obrigadas a conversar em um banheiro que elas trancaram. Me senti mal por ser uma companhia tão desagradável, mas, ao mesmo tempo, senti que eu estaria errada em reclamar de qualquer coisa. Demorei para saber o que eu deveria falar, até que cheguei a conclusão de que eu perguntaria como elas estavam. Percebi que já havia muito tempo que não nos falávamos. Nenhuma das duas pareceu dar uma resposta muito sincera.

Finalmente cheguei ao cerne da conversa: saber a razão pela qual elas não queriam manter contato. E vamos lá. Segundo elas, eu coloquei o vídeo na internet porque queria me mostrar. Contar que tinha perdido minha virgindade não havia sido o suficiente, eu precisava mostrar para o mundo minha “xereca cabeluda”. ‒ Palavras delas. ‒ Eu precisava mostrar que eu sou de alguma forma superior a todo mundo e mostrar que eu tinha chegado onde nenhuma delas havia chegado: na cama.

Fiquei triste por saber que era esta a visão que elas tinham de mim. Mas, de alguma forma, me senti aliviada. Essa razão era muito mais crível do que as outras. Outra coisa que me aliviou foi chegar a conclusão de que nenhuma das duas tinha colocado meu vídeo na internet. Se elas acreditavam mesmo no que diziam, só faria sentido se não soubessem quem foi o verdadeiro autor, se achassem que eu era a culpada por tudo aquilo.


Bia me perguntou se eu tinha mesmo colocado meu vídeo na internet. Quando olhei para Ana, percebi, pela sua expressão, que ela queria que eu assumisse. Foi a primeira expressão que eu consegui ler. Como atualmente eu não sei o que as pessoas esperam que eu faça, resolvi satisfazê-la. “Vocês têm toda a razão. Fui eu mesma quem postou o vídeo.”

Capítulo 6                                                                                                                               Capítulo 8


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