quarta-feira, 23 de março de 2016

Capítulo 8: Mãe


07 de maio de 2016

Querido diário,
Preciso encontrar uma solução definitiva para minha vida. Cada dia que passa, sinto que estou a mais um passo do inferno, mas, quando me dou conta, eu já estava nele há muito tempo. Sinto vontade de fazer poucas coisas. A maior parte de tudo o que eu faço é para que as outras pessoas não se preocupem comigo. Faço tudo especialmente pela Jessica e pela minha mãe. Ninguém tem culpa da minha vida estar esse inferno, é um manto que tenho que carregar sozinha.

Tento não falar muitas coisas. Tenho muito medo de falar aquilo que as pessoas não querem ouvir. Jessica vem me falar de trabalhos e de passeios, eu fico sem saber como dizer para ela que, se eu tivesse que escolher, passava o dia inteiro embaixo do meu cobertor. A vontade de chorar já passou. Acho que a fonte secou. Já chorei por uma vida inteira, por duas talvez. Agora só quero é ficar quieta debaixo dos meus problemas e fingir, com todas as minhas forças, que eu não existo.

Minha mãe finalmente fez as contas. Depois de tanto tempo, ela viu que era impossível que eu saísse do colégio às seis e chegasse em casa às sete, sendo que o trajeto de volta costuma demorar vinte minutos. Eu senti minhas células vibrarem quando ela me perguntou o porquê. A razão era muito óbvia para mim. Já estava me acostumando a ir para a casa do Natan após a aula, acostumada ao sexo e às posições “novas” que ele queria tentar. No entanto, não me acostumei a mentir para as pessoas. Já estava difícil mentir para a minha melhor amiga, agora era a hora de mentir para a minha mãe.

Tudo o que consegui dizer era que Jessica sempre pedia que eu fosse com ela fazer um lanche. Disse que ela estava preocupada e que fazia isso para tentar me mostrar que as coisas estavam normais. É muito difícil mentir para sua mãe. Ela me conhece tão bem que poderia dizer que é uma mentira, mas acontece que era exatamente o que ela queria ouvir, então ela acredita. No fundo, mamãe queria ouvir que eu estava me tratando e que as coisas estão voltando ao normal. Como de costume, eu disse o que ela queria ouvir. No fim das contas, ela é a única pessoa que eu realmente sei o que espera de mim, então é muito mais fácil fingir.

Não está sendo fácil para ela também. Ainda não consigo tirar da minha cabeça o olhar dela quando assistiu ao vídeo. O pânico e o horror que seus olhos descreviam eram mais impactantes do que qualquer outra palavra. Não é fácil admitir que sua filhinha lindinha e amável agora é uma estrela pornô. Eu não queria que ela visse. Na verdade, não queria que ninguém visse, mas fiquei bem nervosa quando as pessoas que eu amo começaram a ver.


Para terminar meu teatro, minha mãe resolveu que estava na hora de contribuir com a minha cura. Na cabeça dela, isso a faz uma mãe melhor, então eu não reclamo. Ela me deu livros e até que são boas opções. Eu leio no meu quarto assim que chego em casa e tento mergulhar fundo na história. Talvez eu mergulhe tão fundo que não encontre a superfície, ou talvez eu encontre em alguma história uma solução para a minha. Ou talvez nada. Talvez eu tenha que me acostumar a viver conforme esperam que eu viva.



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